Cheguei em Nairóbi depois de mais de 30 horas de viagem. Em Manaus, a despedida foi difícil. Deixei grande parte do meu coração lá e segui para São Paulo. Na terra da garoa, abençoada como sou, consegui uma bela companhia que fez as horas voarem e, apesar de cansativa a viagem, poderia ter sido mais longa pra ter mais horas com a amiga querida que encontrei em Guarulhos. Rumo à África: nove horas cansativas até Joanesburgo, mais seis de espera, quatro de voo, e finalmente Nairóbi.
Confesso, as primeiras horas no Quênia não foram fáceis. No entanto, o carinho de todas as pessoas aqui é gigante e ajuda muito. Cheguei em casa de madrugada e o caminho parecia super deserto… imaginem o medo que tive de voltar só algum dia pra casa. Porém, como já disse, tive uma sorte gigante aqui de nunca estar só. Sorte esta que tive tanto aqui como aí.
As madrugadas foram de choro. Ver a mamãe no Skype ainda é sentir um aperto no peito querendo um abraço. Repeti na minha cabeça “é preciso força pra sonhar e perceber que a estrada vai além do que se vê”. Lá de longe vieram pessoas lindas como a dona Márcia de sempre, o Izamir que não sai do pé e está me dando um grande suporte, a Tany que mandou o email mais lindo do mundo, a Gabi e a Day que não param de ser lindas, e mil outras. Aos grupos no whatsapp, me desculpem por compartilhar tanto drama e obrigada por sempre responderem fofinhas.
Aqui do meu lado surgiu um anjo que me ajuda em tudo, o intercambista alemão David. Ele costumava dar aulas na minha escola e agora trabalha em outra também em Mathare. Na segunda, ele me tirou da tristeza e fomos ao Monkey’s Park (Nairobi City Park). Aí que eu comecei a descobrir a simpatia das crianças daqui: sempre, sempre que elas nos vêem na rua saem correndo pra dar um abraço e bater na nossa mão. Coisa mais fofa. Fomos também ao topo de um hotel que tem uma vista panorâmica da cidade, ao restaurante de um outro hotel que tem vista para uma área aberta com animais (pena que só vimos um bambi, mas valeu), entre outros passeios. Até ajudar a limpar meu vômito ele já ajudou, e mais de uma vez… chegou até a brincar que tô fazendo um mapa da cidade citando lugares como “onde passei mal no primeiro dia, onde passei mal no segundo”, haha.
Nesta terça saímos de novo, desta vez acompanhados da Florence, minha buddy da AIESEC aqui. Assim como o David, a Florence é super prestativa e atenciosa comigo. Passei mal, pra variar, e fomos para a favela. É incrível como as pessoas tentam ignorar a pobreza aqui, apesar de estar por todos os lados. A maioria das ruas não são asfaltadas, saneamento básico é quase inexistente, falta iluminação pública até em avenidas importantes, e tem gente que finge não ver nada disso. No avião conheci gente daqui que não sabia nem o que era Mathare (a favela onde trabalhamos). Nas ruas, muitas pessoas dizem “nunca vá para a favela, é muito perigoso lá”.
Fomos para Mathare em um matatu (transporte público daqui que tem a viagem tão divertida, mas tão divertida, que merece um post só pra ele depois explicando direitinho como é!). Chegando lá, descemos em uma área já bem mais suja do que o resto da cidade. O David perguntou o que eu estava achando e me disse que aquilo ainda não era a favela de verdade. Entra no beco ali, sai no beco dali, estávamos no coração de Mathare. Em Manaus, muitas pessoas me disseram que se eu quisesse eu poderia viver a mesma experiência na Zona Leste da cidade. A essas pessoas eu digo: vocês não imaginam como é a realidade dessas pessoas aqui.
Acho que normalmente minha primeira reação seria ficar triste por eles, mas nenhum morador me deixou sentir isso. Todo mundo que nos vê sorri ou acena. As crianças são as mais fofas. Sempre que nos vêem falam “titchá titchá (teacher)” e perguntam “how are you?”, o que inspirou o título do post. Nunca tinham me perguntado tanto como eu me sentia! Ao ouvir aqueles “how are you?” super fofinhos, seguidos dos abraços à minha perna (geralmente são pequenininhos que não me alcançam, então abraçam as pernas), meu coração se derreteu e a tristeza foi embora.
Fui na escola rapidinho para ser apresentada a todos. Lecionarei em Ngotas Upendo. O David me levou pra conhecer a escola e em cada sala de aula que eu entrava a reação foi diferente: os menores me abraçaram eternamente e os mais velhos começaram a me aplaudir com o sorriso no rosto quando disseram que eu seria professora deles. Cada aluno fez questão de me dar às mãos e desejar boas vindas. A ansiedade pra começar a dar aulas só aumentou depois dessa visita. Amanhã (quarta-feira, 3), vamos levar as crianças a um museu. No outro dia já estarei trabalhando diretamente com eles.
Como eu disse no primeiro post, já esperava que esta fosse a experiência mais intensa dos meus 21 anos. Em dois dias já vivi um mix gigante de sentimentos, mas acho que o melhor de tudo foi descobrir o meu motivo pra estar aqui. Eu não vim pra Nairóbi só fazer meu tcc (outro dia falo sobre isso), só pra escrever nesse blog ou querer bancar a Madre Teresa. Eu escolhi Nairóbi por conhecer história de pessoas que mudaram vidas aqui e que tiveram suas vidas tocadas para sempre também. Foram dois dias intensos, mas ainda tenho muitos aí pela frente. Que venham novas emoções, novos sentimentos, e que o sorriso no rosto daquelas crianças nunca me deixe esquecer o que me move.
PS: me desculpem por não ter tantas fotos, mas é que só foram dois dias e eu queria aproveitar ao máximo pra conhecer as pessoas antes. Também não tiro muita foto pela rua porque todo mundo aqui diz que pode ser perigoso ficar expondo tanto a câmera por aí.
Aaai, Nina, teu blog tá demais. Quase chorei aqui hahaha
Demais! Até me emocionei lendo teu post…
Adorei!! Passou mal tantas vezes pq?? Quando der, quero um post sobre as comidas típicas daí…e muitas fotos!!
Lindo demaaaaais :’)
que orgulho de você! todo dia eu entro aqui pra ver se tem algo novo e mesmo que não tenha, não canso de ler e reler! inspiração 🙂
Agora sou eu que pergunto, “how are you”? Mami cuida bem de ti, mãe está sempre preocupada, mas sempre torcendo pelo sucesso do filho. Fica bem com tua saúde para cuidares bem dessas crianças que precisam de você. Grande beijo, e agradeçe por mim os que estão te apoiando.
Parabéns. Cheguei aqui por meio do facebook de alguém que compartilhou o link do blog. Atitudes como a tua demonstram que devemos sair do marasmo, da acomodação, caso verdadeiramente desejamos mudar um pouquinho este mundo. Como amazonense que sou, vou te acompanhar por aqui mesmo sem te conhecer, porém com muito orgulho de ser teu conterrâneo.
Achei fantástico, Marina! Parabéns, parabéns mesmo! Sua experiência de vida é sua e somente sua, mas este canal mostra pro mundo como está sendo. Viro aqui um leitor sempre ávido por novos posts. :} Sucesso por aí! E que você não esqueça o que te move, seja lá o que for. 😉
Lindo demais! A dose de inspiração que já estava me faltando. Favoritei e pretendo acompanhar cada passo seu, Marina. Um beijo e se cuida muito!