
#lookdodia: botinha e muletas no Vale dos Vinhedos
2015 foi definitivamente um ano atípico para mim no quesito viagens. Comecei o ano cancelando as férias – um roteiro que incluía Estados Unidos (finalmente ia conhecer a Disney), e um cruzeiro pelo Haiti, Jamaica e México. Mudei de emprego, então não deu mesmo pra manter a viagem. Com isso, prometi para mim que ia viajar nem que fosse só nos feriados… Não consegui cumprir direitinho a meta, mas fui convidada para dois casamentos fora do Amazonas e planejei viagens rápidas – Rio Grande do Sul, Paraná e Rio de Janeiro. Foi aí que veio uma nova surpresinha: fraturei o tornozelo, tive que passar dois meses sem pisar no chão e precisei adaptar as viagens.
Os primeiros dias de pernas pro ar (literalmente, porque além de não poder pisar eu ainda tinha que manter sempre o pé pra cima) foram desesperadores. Chorei chorei imaginando que teria que cancelar as viagens. O acidente aconteceu exatamente um mês antes da primeira viagem – para o Rio Grande do Sul, mais especificamente para Bento Gonçalves, no Vale dos Vinhedos. O desafio seria não só me locomover por lá, mas também ficar sem ajuda, já que sem um pé eu não conseguia nem tomar banho sozinha direito. Comecei a me desafiar em casa, sozinha, pra tentar me preparar para a viagem e peguei uma queda enorme no banheiro que me deixou mais uns dias de cama.
Com o trauma do banheiro, o primeiro passo foi contatar o hotel e pedir um quarto adaptado. Ficamos no Hotel & Spa do Vinho, onde foi realizado também o casamento. O hotel arrasou muito: me ofereceram uma cadeira de rodas pra ficar usando lá, já que era muito grande e muleta cansa, e o quarto adaptado é incrível. Se a experiência no hotel foi boa, já não posso dizer o mesmo dos outros lugares que visitei na cidade. Infelizmente, todos os restaurantes que visitamos não eram preparados para receber deficientes físicos. Sério, gente, uma barra de apoio no banheiro já ajuda muito. Invistam nisso.

Galera que salvou a pátria me ajudando por lá
Dos passeios na cidade, os mais comuns são visitas a vinícolas, andar pelos parreirais e o Passeio de Maria Fumaça. Acabou que pegamos dias de chuva e sair de muleta ficou muito arriscado. Contatei as vinícolas da região e todas eram difíceis para locomoção. Ainda bem que eu já tinha ido no Rio Grande do Sul e visitado uma vinícola, senão ficaria bem triste. Dessa vez, infelizmente, não rolou. O passeio pelos parreirais eu fiz (with a little help from my friends ❤ valeu galera!). Mas sério, apesar da chateação pelo pé machucado, a viagem vale super a pena. É tudo tão lindo que só olhar pela janela já deixa a vida melhor.
Para chegar em Bento Gonçalves, é preciso pegar a estrada. Optamos por alugar um carro, pelo conforto pro pé quebrado, e foi a melhor escolha. Tudo é longe e estávamos na Zona Rural, então conseguir um táxi é mais um desafio. Não pensem duas vezes em alugar um carro se forem ficar na região do Vale e não na sede do município. Além disso, nos deu a comodidade de visitar outros municípios ali perto, como a fofinha Garibaldi e Ivoti, onde minha irmã mora. As estradas no Rio Grande do Sul são ótimas e com paisagens incríveis. Curtimos cada segundo da viagem.

Estrada maravilhosa do Rio Grande do Sul
Um mês depois, veio Curitiba e Rio de Janeiro. Tive a felicidade de tirar a imobilização na semana da viagem, mas foi bem difícil para voltar a andar e eu ainda não tinha começado a fisioterapia, então não ajudou taaaanto assim. Pra variar, pegamos chuva forte em Curitiba e fomos obrigados a curtir mais o shopping e o hotel do que a cidade. 😦 Como só fomos ficar dois dias, no segundo fiz aloka (desculpa, mãe!) e fomos para o Jardim Botânico mesmo com chuva. O importante é que não caí e pelo menos conheci o cartão-postal mais famoso da cidade. Precisamos voltar lá pra ver o resto! O hotel foi o Ibis Curitiba Shopping e também oferecia banheiro adaptado para deficientes. Arrasaram. ❤

Lindo até com chuva 🙂
A parte mais chata veio no Rio de Janeiro. Fiz as três viagens de Gol e, logo após machucar, contatei também a companhia aérea informando que ia precisar de apoio no aeroporto. É obrigatório que eles ofereçam esse serviço não só a deficientes físicos, mas também a clientes com mobilidade reduzida. Como não dá pra ficar com o pé pra baixo, eles fazem o upgrade gratuito para assento conforto do passageiro deficiente. Se ainda tiver vaga, fazem do acompanhante também.
O atendimento da Gol foi ótimo nos aeroportos de Curitiba, Manaus e Porto Alegre, mas no Rio que a estrutura deixou a desejar. Sem “fingers” disponíveis (aquela ponte que liga o saguão ao avião), era preciso usar a escada remota. Me pediram para usar a escada, mas como não estava podendo pisar e ainda estava super lisa devido a chuva, me neguei e optaram por usar a ambulift (um equipamento que funciona tipo um elevadorzinho remoto). Infelizmente, em um dos voos o atendimento foi péssimo e me deixaram um tempão debaixo de chuva torrencial enquanto esperava o equipamento, sem o cuidado de pelo menos arranjar um guarda-chuva. O atendente da Gol ainda foi super grosseiro com meu namorado quando reclamamos por estar na chuva. No avião, a empresa não tem mais toalha ou manta, então precisei viajar por quatro horas com o vestido fino ensopado, passando super frio. Pelo visto não aprenderam muito com o caso de Foz do Iguaçu, quando aquela moça com ossos de vidro precisou se arrastar para subir no avião por falta de ambulift.

Usando o ambulift em um voo sem problemas; no dia da confusão, não deu pra tirar foto decente pq tava chovendo muito
Fui pro Rio principalmente pra ver o show do Los Hermanos… Só essa experiência já daria um post a parte de tão complicada. Fui proibida pelos homens do Corpo de Bombeiros a ir para a área reservada para deficientes e pessoas com mobilidade reduzida (aparentemente, no Rio, muita gente dá o “golpe da muleta” pra ficar sentado em show) e só conseguimos resolver quase no fim da noite. Decepcionante. Assim que tive que ficar por lá:

Jogada pelo chão na hora do show. Obrigada, Bombeiros!
Agora estou me recuperando da fratura, ainda fazendo fisioterapia. Mesmo que (se Deus quiser) não precise mais dessa estrutura, fica um ponto de reflexão para quem trabalha com turismo: pensem sempre na acessibilidade. Não é justo que nem todo mundo possa curtir uma viagem por falta de estrutura decente.