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Réveillon no Nordeste: eu realmente preciso ser milionária?

Se tem uma época que odeio tirar férias, é em dezembro/janeiro por motivos de: pobreza. Sério, quem merece alta estação? Minha vida é amar promoções de passagens! Aí esse ano mudei de emprego e veio a notícia maravilhosa de que no novo job todo mundo tira férias coletivas. Adivinha quando? Janeiro! Meu coração doeu um pouquinho ao saber, mas aí lembrei que posso aproveitar tantas coisas maravilhosas como Réveillon por aí, praias e dias lindos, e a tristeza passou.

Como eu amo planejar viagens e férias em janeiro anda fora da minha realidade desde a época do ensino médio, decidi começar a pensar em cantinhos para conhecer ano que vem. Com o dólar tão em alta, não tem sido nada fácil. A planilha do Sudeste Asiático virou arquivo na pasta “futuro”, a vontade de ver familiares que moram nos EUA e Europa vai ter que morrer pelo Skype, e infelizmente a passagem para a maioria dos destinos internacionais (mesmo aqueles com moeda mais desvalorizada) estão super caras. Foi assim que decidimos voltar a pensar por aqui e optar pelo Nordeste (que tanto amo <3) como plano A.

Antes que me chamem de chata que prefere a gringa do que o Brasil, a verdade é que tô com muita saudade de uma boa aventura fora da minha realidade, por isso queria tanto conhecer uma cultura bem diferente e ir pr’aqueles lugares que a gente quase não escuta falar, mas pensando também em um fator muito importante chamado “quero ver algo lindo e relaxar muito”, tem como não cogitar um lugar esse da foto seguinte?

Praia do Cachorro - Fernando de Noronha, um dos lugares que sonho em conhecer! (Foto: Eduardo Muruci)

Praia do Cachorro – Fernando de Noronha, um dos lugares que sonho em conhecer! (Foto: Eduardo Muruci)

Além de ser lindo para uma aventura no estilo que quero (mochilão, trilhas e etc), o Nordeste é um dos lugares no Brasil com Réveillons que mais bombam! E tem três estados em particular que quero muito explorar: Pernambuco, Bahia e Alagoas. Nesse ano, todas as celebridades que gosto, além de alguns amigos, foram pra lá e viraram o ano em festas que pareciam ser maravilhosas. Foi aí que decidi pesquisar e caí pra trás!

Pernambuco

Confesso que pesquisei pouco sobre a virada do ano em Pernambuco porque queria mais se fosse em Noronha (arquipélago que faz parte do território do estado) ou em um hotel maravilhoso que sou louca pra conhecer em Porto de Galinhas. Pra quem já tava assustada com os preços do dólar, o que custava cogitar uma aventurinha em um dos destinos mais caros do país ou em um hotel de luxo? Foi aí que a realidade me puxou pelos cabelos e disse: “vem cá, você esqueceu que é jornalista?”.

Em Noronha, o Réveillon mais badalado é na Pousada Zé Maria. Os preços, comprando até essa semana, estão lá por perto dos R$ 1.400. Até que achei mais ou menos, comparando com o outro que vi em Pernambuco, daí cheguei ao trecho que explica: não tem hospedagem na pousada no Réveillon, então isso é só a festa mesmo. Fora isso, os preços de passagem para o arquipélago estão super caros e de hospedagem também. Efeito ano novo.

O hotel dos meus sonhos na tão amada Pernambuco é o Nannai Resort & Spa, na praia de Muro Alto, em Porto. Ele é super lindo, com uns bangalôs maravilhosos pra viagem a dois. Bem pobre, fui tentar reservar só o dia do ano novo e FUEN: no Réveillon só fechamos pacotes de sete dias. Ok, vamos pesquisar o preço… 16 mil FUCKING reais comprando agora. O bangalôzinho lindo que eu vi, o mais simples de todos, sai pela bagatela de R$ 28.430,00. Fiquei tão chocada que não consegui descobrir se esse era o preço do casal ou por pessoa, e a planilha do Nannai foi para a pasta “em um futuro mais distante ainda”. Apesar do preço, Nannai, continuo te amando, sonhando contigo e ficarei te admirando aqui no #camievictakePE.

Esse é o Nannai. Sim, eu sei que era sonho achar que seria barato, mas a Xuxa me ensinou que sonho sempre vem pra quem sonhar.

Esse é o Nannai. Sim, eu sei que era sonho achar que seria barato, mas a Xuxa me ensinou que sonho sempre vem pra quem sonhar.

Foi assim que meu coração partiu por dois segundos com Pernambuco e parti pro próximo…

Bahia

Um dos estados que mais sonho em visitar é também conhecido por ter as melhores festas de ano novo do país. Alô, Bahia! Comecei a pesquisa então por Trancoso. A principal indicação foi uma festa promovida pela agência Haute em parceria com a Taípe Produções chamada (nome criativo detected) Festa do Taípe.

Pesquisei, pesquisei por preços e nada achei, mas decidi ver fotos do evento e me deparo com essas pessoinhas por lá:

taipe

Desculpa vida, mas não venci você ainda a nível de pisar na mesma areia que Thassia Naves, Lalá Rudge, Kate Moss, Naomi Campbell, Daniel Alves e Pugli. Por sinal, pelo que li a Naomi ficou super irritada nessa festa porque ficavam tirando foto dela (ainda acho que foi por ser a única negra e sem cabelo loiro na festa). Enquanto isso, Kate Moss curtiu a balada de pijama, no melhor estilo porra louca que eu queria ser pra dançar até de manhã.

So dance like Kate Moss!

So dance like Kate Moss!

Vi fotos de Maraú, também na Bahia, e apaixonei! Fui ler sobre o local e descobri que também é um dos que têm festas super bacanas de Réveillon. Além de caro, descobri que a música eletrônica é o mais bomba, então desisti.

Alagoas

Dos lugares no estado que mais me apaixonei e li recomendações, São Miguel dos Milagres foi o primeiro. E que coisa mais linda passar a entrada de ano em uma cidade que tem “milagres” até no nome, né? ❤ O lugar é tão lindo que ganhou o apelido de Caribe brasileiro, pela areia branquinha e água cristalina. Até 2004, sua população era de 6.354 habitantes, ou seja, super cidadezinha maravilha para explorar como gosto.

Não dá vontade de ficar o dia todo de bubuia?

Não dá vontade de ficar o dia todo de bubuia?

O Réveillon dos Milagres 2016 vai ter seis festas entre os dias 27/12 e 02/01. O primeiro lote começa a ser vendido hoje por R$1.890,00 para mulheres e R$2.490,00 para homens. Sim, dinheiro pra caramba, mas se for parar pra pensar são R$ 315 por festa (no preço feminino) com bebida liberada (vodka premium, whisky premium, caipiroska, cerveja, cachaça, energético, refrigerante, suco e água). Se a pessoa bebe bem, é vantagem. O que achei mais chato é que as atrações são confirmadas já perto das datas de evento (quando os ingressos para mulher já chegam a R$3.390,00 e para homem a R$3.990,00) e das atrações do último ano eu só conhecia a Banda Eva. Acho que é bem válido para quem vai em um grupo ou só quer cair na balada e nem liga pro que vai tocar.

Socoooooorro, Cicarelli!

Calma! Praia e Cicarelli não são combinação boa, eu sei, mas não é nada disso que você está pensando. Queria dicas de amigos que já passaram o Réveillon por essas bandas: onde é legal, qual vale a pena, como gastar menos?

Agora, achando tudo caro, fiquei com a maior vontade de ir sem ingresso de festa e só curtir a virada de ano jogada na areia de alguma praia bem linda. Acho que só esse visual do Nordeste já satisfaz qualquer pessoa, né? Mas para não me arrepender no futuro, peço dicas. Deixem aqui nos comentários, mandem inbox, e-mail, o que for, mas me ajudem, por favor!

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Brasil, mostra a tua cara

Voltei para o Brasil. A vida aqui tem sido tão agitada que o tempo para alimentar o blog se tornou extremamente escasso. Além disso, confesso, o choque cultural reverso foi forte e me tirou uma grande inspiração pra escrever pro blog. Tenho milhões de rascunhos na página de administradora do ‘Ando Pelo Mundo’, mas nada expressa 100% como eu me senti com esse retorno. Voltei para o Brasil, mas não me senti 100% brasileira até a quinta-feira, 13 de junho.

Como todos os brasileiros sabem, na última semana começou uma série de protestos em São Paulo contra o aumento da tarifa de ônibus. O valor aumentou R$ 0,20. Esse valor, pra mim, sempre foi coisa que eu poderia perder no fundo da bolsa e por lá ficaria. Sinto falta sim, quando vou pegar ônibus (o que faço sempre que vou pra Ufam, quando vou rs), mas aí acabo destrocando R$ 2 de novo e ganho mais moedas.

Protesto em São Paulo (Foto: Marcos de Paula/Estadão)

Protesto em São Paulo (Foto: Marcos de Paula/Estadão)

Nasci em uma família de classe média. Nunca tive tudo o que eu queria, tive que dividir a maioria das coisas com minhas duas irmãs mais velhas, mas nunca passei fome. A fome, na verdade, foi algo que só conheci no Quênia. No meu primeiro intercâmbio, na Inglaterra, engordei dez quilos. No Quênia, perdi seis. A fome não foi por necessidade, foi por choque, dificuldades que tive para aceitar as diferenças e vontade de me sentir na realidade daquele povo.

No Brasil eu sou estudante e atuo como jornalista. Sou solteira, moro com meus pais e ganho um salário razoavelmente bom para alguém que não precisa pagar contas além das bestinhas de celular, aulas de pilates que estou fazendo e compras. Voltei a um lugar onde R$ 0,20 não fazem diferença para mim, mas vejo todos os dias pessoas que seriam muito mais felizes se tivessem esses trocados que perdi na bolsa. Vejo gente aqui e vejo gente de lá, que ficou na minha cabeça e nunca vou esquecer.

Eu achei que a África ia me deixar muito mais forte a ponto de não me abalar com a realidade daqui, sempre lembrando que vi coisa mais triste lá. Cheguei até a escrever sobre isso em um dos rascunhos que preparei e não publiquei. Achei que nenhum vídeo da realidade brasileira ia me fazer chorar, mas hoje chorei. Chorei ao ver a agressão sofrida por uma jornalista que quase perdeu a vista ao ser atingida durante um protesto em São Paulo. Chorei porque ela não merecia aquilo. Ela estava ajudando uma pessoa quando foi atingida. Chorei porque me vi ali, no lugar dela. O vídeo está aqui para quem quiser chorar comigo. Chorei por lembrar de uma atividade que fiz lá no Quênia, sobre a qual quis escrever mas acabei adiando. Hoje vou compartilhar.

Durante a semana de provas dos alunos da classe oito, a mais avançada, pedi que eles fizessem uma redação sobre as eleições presidenciais no Quênia. O que eles descreveram foi a sensação de medo que viveram durante esse período. Alguns falaram das eleições como o melhor dia da vida deles, por terem conseguido eleger um novo representante sem que parte da população fosse morta em guerra. Eles temiam que fosse como em 2007, quando centenas de pessoas foram assassinadas em atos de violência com motivação política. Corrigi esses textos triste por eles, mas extremamente feliz por meu país nunca ter sido assolado por violência assim por esses motivos. Agora, com tanta sujeira sendo escancarada, me pergunto: será que eu tinha tanto motivo pra ser feliz assim?

Já sofri, no Brasil, agressões que prefiro nem citar. Já vi situações extremamente piores. Cobri polícia por um tempo e vi cada absurdo que me fez perder a fé em parte da humanidade. Convivi com políticos e vi coisas piores ainda. Cobri cidades e vi a realidade de um povo que paga caro por direitos básicos e sofre por não receber o que deveria do governo. Manaus é como o Quênia. Não, o povo não sofre tanto aqui. Não se compara, eu não seria louca de fazer isso. No entanto, temos um sofrimento gigante de ir às urnas de quatro em quatro anos com o peito cheio de vontade de mudança e depois quebrarmos a cara de novo.

Todo dia a gente sai pra ir pro trabalho com medo. Medo de ser assaltado, de sequestro relâmpago, de ser estuprado, de ser atingido por um ônibus enquanto anda de bicicleta na rua porque a prefeitura nunca fez uma ciclovia, de perder o horário porque o ônibus atrasou ou tá tendo greve do transporte coletivo. A gente sai com medo de ter R$ 2,80 no bolso, porque se chegar lá no cobrador sem ter os dez centavos pra completar o valor da passagem de ônibus ele não vai te deixar fazer o trajeto. O que a gente não teme é pagar R$ 3 e não receber o troco de dez centavos. E é isso que a gente deve combater. É por justiça que devemos pedir.

Eu não me senti 100% brasileira após voltar pro Brasil até chegar o dia 13 de junho de 2013. Eu estava no trabalho, acompanhando tudo de São Paulo. A realidade me chocava, mas ainda assim era um pouco distante. Em Manaus, no mesmo dia, ajudei na cobertura da nossa manifestação. De cem participantes, OITO foram detidos. Eles foram atingidos também por balas de borracha, gás lacrimogêneo e toda essa truculência desnecessária.

A vontade agora é de ver tudo mudar. O choro que derramei ao ver o vídeo da Folha só motiva. Ver mais gente indo pras ruas dá alegria. Nós não estamos sós. Nós somos uma nação. Preparem cartazes, peguem o vinagre. Quem liga se o trânsito vai ficar ruim por algumas horas? Ele é ruim todo dia mesmo. Se o transporte coletivo fosse bom, talvez as pessoas pudessem deixar o carro em casa e diminuir o congestionamento de todo dia. Não temam a PM. Ela não vai ser grande o suficiente pra calar uma nação. Brasil, finalmente verás de novo que um filho teu não foge à luta.

Eu sou brasileira e acredito na mudança. Vão às ruas. Espalhem a mensagem de paz e justiça. Não aceitem o vandalismo praticado pelos governantes diariamente. Aqui está o link de protestos agendados em cidades de todo o país. Seja a mudança que você quer ver no mundo.