Há um pouco mais de um ano escrevi o primeiro post desse blog. Dei o nome “Amanhã vai ser o melhor dia da sua vida” para o início de uma série de histórias. Era para ser um registro, uma maneira de compartilhar experiências. Virou um livro de aprendizado. Em um ano, sempre que me senti triste, feliz, rica, pobre, doente ou qualquer coisa, voltei aqui. Cada palavra me faz lembrar de uma lição. Cada dia foi o melhor dia da minha vida. Hoje é dia de reviver memórias.
Assim que voltei do Quênia, fascinada pelo país, bateu aquela tristeza sem tamanho normal de pós-viagem. Nada era mais difícil do que acordar, ir pro trabalho e não ouvir as criancinhas mexendo comigo no caminho, me chamando de “muzungu” (pessoa branca). Me afundei na rotina de novo com faculdade e trabalho, e logo comecei a estudar bastante o trabalho do sociólogo Pierre Bourdieu na África pro trabalho de conclusão de curso, e assim, de alguma maneira que não me recordo, cheguei a Hemingway e os textos também sobre o continente. Foi nele que encontrei meu refúgio, aceitei minhas dores e aprendi a aceitá-las como lembranças boas. Só ele soube me explicar exatamente o que eu sentia.
“Não me lembro de nenhuma manhã na África em que não acordasse feliz”, citou o escritor em Verdade ao Amanhecer. Realidade esta a minha ao acordar, pegar dois matatus e ir pra favela em Nairóbi, ou ao acordar na beira da praia do mar mais lindo que já vi na vida em Zanzibar.
“Eu voltaria para a África, mas não para viver disso. Eu poderia fazer isso com dois lápis e algumas centenas de folhas do papel mais barato. Mas eu voltaria para onde foi um prazer viver, para realmente viver, e não só deixar minha vida passar”. É, Hemingway definitivamente sabia das coisas.
Hoje, um ano depois, já vendo frutos do meu trabalho, como a construção da escola em Mathare, e novos projetos super bacanas surgindo, como o Livros por Sorrisos, sinto que o Quênia continua sendo o meu lugar. Mais importante ainda, vejo com alegria esse país mostrando seus encantos pra tantas outras pessoas sensacionais que passaram por lá depois de mim. Tenho vontade de voltar. Nos dias mais difíceis, tudo o que mais quero é um abraço coletivo e ouvir as gargalhadas das crianças. E apesar de já ter sofrido muito por saudade, hoje sei: o amor é maior. Não importa onde estou, parte de mim sempre estará lá. Hoje completa um ano que cheguei ao Quênia, e sei que essa é só uma das nossas primeiras conexões.
“Sou apaixonado pela África, e sei que ela é um segundo lar para mim. E quando um homem consegue ter um sentimento desse por outro lugar que não seja aquele onde nasceu, é porque aquele é o lugar onde ele deve estar”.